sábado, 22 de setembro de 2012

O que me cansa é as pessoas te dizendo como você vai viver (...)

Eu quero mais. E ultimamente ando com desejos antigos, de quando tinha uns treze anos e imaginava a minha adolescência super agitada, movida a muito álcool, experimentando de tudo: uma bebida verde maluca com cheiro estranho, tô dentro; sair de casa de madrugada numa caminhonete velha com um monte de gente estranha, tô dentro; beijar pessoas desconhecidas e fazer coisas obscenas num lugar estranho, tô dentro. A idéia era: experimentar. Viver, sabe, ter histórias (nem sempre de bom exemplo) para contar. Não queria de forma nenhuma dizer aos meu netos como tive uma vida pacífica, como encontrei no avô deles o amor da minha vida, casei virgem, e Jesus é o Senhor. Queria alguma coisa emocionante, como dizer que conheci um cara no show do Pearl Jam, que era definitivamente o amor da minha vida, e nós bebemos absinto até enjoar, beijamos muitas outras pessoas, porém um dia ele foi embora, eu não tinha o que fazer fui trabalhar, conhecer Nova Iorque, o lugar onde conheci o avô deles, que era completamente grunge e maluco, e decidimos nos casar para passar o tédio. Isso, claro, quando eu tinha treze anos.
Os quatro anos seguintes foram bem monótonos vendo por esse ponto de vista. Eu estudei, parei de beber, abandonei o pouco de drogas que conhecia. Me tornei gente. E comecei a fazer as coisas que achava que nunca faria: arranjei um namorado, esqueci o amor platônico, perdoei erros alheios, falei e dancei em público na escola, voltei a dançar balé, traí, criei uma certa antipatia pelas pessoas da cidade (ok, essa eu imaginei que acontecesse), passei a ter uma relação de amor com meu cabelo. Houve dias em que eu parava no espelho e me perguntava: quem é você?
E foi então que eu percebi que podia mais. Que a guria de treze anos que iria obviamente morrer de overdose ou DST antes dos vinte, já havia morrido há muito tempo. Eu ainda queria "experimentar" ao máximo, mas de uma forma diferente. Eu percebi que sempre colocava na cabeça que não podia uma coisa, ia lá e me provava o contrário. Às vezes coisas imorais e erradas, mas, quem se importa? Aparentemente o tempo de errar era esse. Quando se é adulto, todos os erros refletem em todas as áreas da sua vida, e você vive em função de dor de cabeça e encheção de lingüiça. Eu queria mais, mas de uma forma bem amena.
Eu ainda quero mais. A desculpa agora virou clichê: eu tenho 17 anos, e a vida está só começando. E se eu morrer amanhã? Existem tantas milhares de coisas ainda a se fazer. Plantar uma árvore, ter um filho, desfilar numa parada gay, beber absinto, sair de casa, escrever um livro, fazer uma viagem completamente sem dinheiro só com a mochila nas costas, muito sexo, uns dreadlocks no cabelo, encontrar um lugar no corpo para tatuar, tatuar, colocar mais brincos nas orelhas, ajudar na busca pela paz mundial, ajudar os famintos na África, protestar por qualquer só porque protestar é legal, conhecer o Damien Rice, ir a um show do Pearl Jam, conhecer Nova Iorque, fazer um "high-five" com o Dalai-Lama, morar uma comunidade hippie auto-suficiente, encontrar o nirvana (não o Kurt Cobain)...
Agora, me diga: como diabos eu faria qualquer coisa dessas presa numa vidinha bosta, num emprego bosta que não me satisfaz, com filhos chatos e metido que se acham super fodas mas são uns bostas, achando super normal porque a vida bosta é o que toda pessoa integrada na sociedade procura, a instabilidada bosta!
Desculpa, mas isso não entra na minha cabeça. E se eu não quiser? E se ao invéz de um marido, eu queira dois, e viva muito bem com isso? E se eu quiser raspar a cabeça e virar homem? Acho que o que me cansa é as pessoas te dizendo como você vai viver. Você vai estudar muito, vai para a faculdade, vai fazer muitos cursos, ai vai trabalhar duro para comprar umas coisinhas fúteis que não vão adicionar nada na sua vida, mas vão agradar e impressionar as visitas, ai você vai se multiplicar, tratar seus filhos como se fossem acordos comerciais, em caso de dúvida, deixe-os assistir bastante tevê, hoje as crianças se criam sozinhas mesmo...
Eu quero mais. Odeio toda essa burocracia sobre como vamos tomar conta de nossas vidas, e como as outras pessoas fecham a cara para tudo isso.
Eu quero muito, muito mais. Eu quero viver minha vida do meu jeito, e se eu me foder, que as pessoas estejam pouco se fodendo para isso.

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